Conto: Voltando pra casa
Coço os olhos cansada, me espreguiço e desligo o computador. Meus olhos já não enxergavam o que estava aparecendo na tela.
Mais um dia em que passo dos limites. Tenho essa mania besta de querer terminar logo as coisas que me desagradam pra não vê-las mais na minha frente. O problema é que a maior parte do que eu fazia estava me enchendo o saco, o que me deixava exausta.
Pego minhas coisas e vou embora sem me despedir. As pessoas já não ligam mais, até desistiram de fofocar a meu respeito. Pra eles não tem graça quando o alvo não reage. De vez em quando recebo uns olhares de pena e ouço uns cochichos pelos cantos: “Coitada, parece um robô”, “Ela não fala?”, “Ela não sorri?”. Eu não me importo.
Eu só faço o que tenho que fazer e vou embora. Qual o sentido da vida? E toda essa bobagem existencial, qual significado disso tudo? Sou uma existência vazia, concluo.
Chego em casa. Está frio, uma casa vazia é sempre assim tão gelada? Eu só quero dormir, não há nada mais para se fazer.
Ao abrir a porta do quarto, uma surpresa que aqueceu meu peito. Uma gatinha dormindo no pé da cama. Devia ter entrado pela janela que esqueci aberta, tão lindinha. Chego perto, ela se assusta e vai para debaixo da cama.
Me abaixo para tentar pegá-la. Ela corre. E eu corro atrás.
Depois de um tempo desisto, ela faz o que bem entender. Sento no chão da sala e ligo a televisão, nada de bom está passando. Adormeci ali mesmo. Os sonhos me atormentam, sinto que estou congelando e sofro sozinha.
Acordo com lágrimas escorrendo pelo rosto e, apesar do frio por estar no chão, uma parte de mim estava aquecida. Era a pequena gatinha dormindo no meu colo, sua respiração leve e o ronronar me acalmaram. Acariciei seu pelo macio e me senti feliz por tê-la ali comigo.
4 comentários
Me identifiquei bastante com esse texto... a primeira parte é a minha descrição no trabalho (exceto a parte de terminar as tarefas logo, porque infelizmente eu procrastino bastante :/). Queria tanto chegar em casa e encontrar um gatinho! Mas não posso reclamar, porque a coisinha preta que me aguarda é um cachorro igualmente carinhoso <3
ResponderExcluirAh! Mas é tão antidepressivo quanto gato. Até porque, cachorrinhos são tão alegres que contagia ♥
ExcluirExiste uma melancolia no seu texto que gostei bastante. Acho que é por que a maior parte dos meus dias tem sido assim, cumprir as tarefas de 'adulta responsável' e me refugiar na cama. Só falta mesmo a gatinha, mas eu moro no segundo andar, então vou ter que conformar com o travesseiro hahah
ResponderExcluirEsse texto representa um momento da minha vida. Eu andava muito triste e desanimada o tempo todo a unica coisa com a qual me importava era com as minhas gatas. Eu não me importava com mais nada. Claro que, eu não sou como nesse texto, de ser tão isolada, não falar com ninguém. Mas de certa forma representa o que sentia na época em que escrevi isso. Hehe, talvez nenhum gato pule pela sua janela, mas quem sabe não apareça um na rua precisando de você? Eles ajudam muito em dias de tristeza ♥
ExcluirObrigada por comentar! ♥